Padre perdoe-me porque pequei; eram três meninas, escala cromática ascendente, 14, 15, 16, pardinha, pretinha, verdinha, – não resisti, ofereci dez cruzados. Fui eu padre, aquela notícia no jornal das oitos, sou eu. Elas estavam com medo; primeiro intimei uma apenas, sozinha, achei que não haveria vergonha; ela toparia, mas não. Fiquei esperando, fumando, me remoendo, morrendo, uma seca de mais de duas semanas, o quinze de Éça de Queiroz: aquela menina-feminista-escritora. Eça: quase pronome, quase menina, mas sem dúvida uma palavra feminina. Para a minha completa surpresa (o quinze de Raquel de Queiroz estava a caminho do fim), aquela que disse, “não, vou dormir”, voltou com as outras duas, 14, 16. Não conseguiria sozinha, jamais; chamou as amigas, preferiu dividir o dinheiro. No mais, é tudo que nos finalmente importa, num é mano? Yo. Jovem precisa de um grupo. É uníssono o conceito de identificação: roupas caras e caros gostos; igualmente uníssono, afinidade: simplesmente tudo que eu não poderia fazer com você nem em pensamento. Jovem sem escola acha um grupo. Extermínio: adolescentes em escolas católicas morrendo de vergonha do recreio, todos juntos, menos eu; mas isso foi há muito tempo, lembro, 50 anos depois, esqueço, mas relembro que está lá sem efeito, superei, venci, mas não sou eu sou você. De um lado uns, eu de outro, fritando, tentando dormir, chapa quente, de um lado para o outro, cansei, melhor pensar em sexo. Cansei, introdução ao raciocínio lógico, cansei, tese de doutorado de Miguel Reale, nem pensei, 14 15 16, já cansei; na cama, fritando, nos meus sonhos, um engenheiro de alimentos, nutricionista, sujeito empresarial, formado e renomado, primeira aula: ovos fritos. Fritei cada uma delas, padre; primeiro a mais novinha, 14, sequinha, passei à segunda, 15, nela fiquei, gozei de pau mole. 16, a única que não peguei, 16 a que mais gostei. Era o mesmo medo, sozinho não fui páreo. Numeral cardinal: “toma aqui seu dinheiro”; “aonde você vai?”; “volte aqui”; “volte aqui”. Não fiz nenhuma gozar, mas elas sabiam muito bem. Uma pega a outra, mas não estou mais disposto a. Agora, tentando dormir, fritando, só consigo imaginar; bem que queria tirar da cabeça, porém... Os pecados... Meus... Aprenderam juntas a gozar, minha filha, minha sobrinha, minha irmã, todas minhas. A culpa é minha, perdão! Eu pequei. Sei o que elas fazem, mesmo não estando lá, perdão. Por mais que pareçam inofensivas, em grupo, elas se revelam. Perdão, sei que elas queriam mais que eu; o que faltava era coragem, a mesma coragem que me falta. É tudo verdade, a notícia no jornal sou eu. As pessoas vêem estes olhos negros e sabem que por de trás esconde-se o inferno, por isso estou aqui padre. Não quero que me salve, quero que reze por mim, transforme-me em outra pessoa, não posso ser identificado. Identificação (segundo conceito! voooolver): elas se pegando depois que fui embora, simplesmente: precisavam gozar. No caminho para a casa abandonada, falantes, assanhadas. “E, você, faz aquilo, aquilo outro”. Censura para o que diz a menor. Tarja preta. Reze por mim padre, preciso esconder meus olhos negros; as pessoas sabem sem saber; meus pecados estão lá. Contrate uma banda e faça aquela algazarra, devo ser inocentado, preciso ser outra pessoa.