sábado, 19 de março de 2011

Angústia de um tabagista.


Preciso de um cigarro! Nenhuma companhia  seria tão agradável nesse momento quanto um cigarro. A madrugada encurta a noite, e uma chuva torrencial desaba lá fora. Aqui dentro, a insônia torna a falta de cigarros angustiante. Eu sairia na chuva pra comprá-los, mas não tem nada aberto nessa praia fria e fora de mão. Isolada pelas chuvas, ninguém entra ninguém sai. Assim determinou a natureza. Já começa faltar alimentos, combustível, dentre outras coisas mais. Deus! Isso está começando a me assombrar; e se faltar cigarros? Não, jamais; cigarros não vão faltar. Sempre tem aqueles  do Paraguai. Não, não pode faltar cigarros, posso agüentar até amanhã, fico aqui acordado andando pela casa.
  Distraido hora com a TV, hora com um livro.
Deito tento dormir. Me masturbo, cochilo um pouco, logo acordo. Esses pernilongos. Reviro o lixeiro, duas ou três bitucas rendem um enroladinho fumável, calmaria... Por pouco tempo, agora sim bate o desespero. Não há mais nada pra fumar mesmo. E se eu ligasse pra alguém, como? O telefone esta mudo. Além do mais não sou íntimo de ninguém nessa cidade... “Maldita hora em que resolvi vir pra cá.” - Adeus pessoal! Fiquem aí no inferno dos pinheiros, vou pra praia, curtir o ar puro, ver  menininhas de biquíni e descansar... Hahahah se deu mal idiota! Nesse momento eles devem estar em algum lugar, tomando cerveja, rodeados de meninas e fumando. Ah fumando! Como eu queria um cigarro. Vontade de beber aquela cachaça que ta na geladeira. Tomar um porre desses de acordar sem saber como veio parar ali. E se não tiver mais cigarro na cidade? As rodovias estão interditadas, pode muito bem faltar, no barzinho aqui perto não tem mais. lembra ontem que tive que buscar lá na avenida? Melhor não beber, imagina acordar de ressaca e não ter um cigarrinho pra rebater. Deveria ter me prevenido, comprado de pacote quando vi a noticia na TV. Não! Amanhã eu compro dois, dois não, três pacotes pra garantir, saber lá quando as rodovias serão liberadas. E se o cartão não passar, será que tem dinheiro no caixa eletrônico? E no banco? Jesus eu não pensei nisso... Ah que vontade de fumar! Tem uma menina de catorze anos fumando no filme, desligo a TV. No romance que estou lendo acendem um cigarro em nome de tudo que deveria ser feito. Maldito seja o fumante que escreveu esse livro. Beat filho da pauta! Eu só quero um cigarrinho, assim que eu conseguir um, será o último, e a última vez que eu me permito ficar sem. Comprarei um maço pra vilipendiar, mostrar o quão mais forte eu sou até a próxima chance. Amém.

sábado, 12 de março de 2011



Toda  noite  me dedico involuntariamente ao mesmo sonho:
Sou uma espécie de burro ou asno,velho e  cansado. Após um dia cheio de trabalho, maus tratos e humilhações, deito-me para sonhar. Sonho que sou um homem. Acontece que no sonho do burro, o eu  homem acorda para trabalhar. E Quando o eu-homem dorme,  o eu-burro é acordado,  e assim fica até que vai dormir novamente.


Ambos os sonhos parecem tão reais!
Questiono:
qual dos sonhadores sou eu, o burro ou o  homem?
 Por um apego aos clássicos que  uso para disfarçar minha ignorância, procurei meu volume de “As obras completas” e comecei a ler A interpretação dos Sonhos.


Minha leitura não foi longe; logo percebi que eu não era nem o asno que sonhava ser homem, nem o homem idealizado, que no entanto era incapaz de sonhar;  mas sim aquilo que ficou perdido entre os dois, e  que neles não possuía existência.



creditos: procura-se o Autor

terça-feira, 1 de março de 2011

Abordagem de rotina.

 A noite convidava para um passeio. O vento forte e o som do mar revolto "chegavam" até a minha casa. amigos esperando na esquina. Duas da manhã, sai como se tivesse um destino
Meu cachorro me acompanhava. corria, farejava, marcando território e latindo aos seus ancestrais caninos. Sentei nas pedras e acendi um cigarro. Permaneci por algum tempo refletindo coisas fúteis. Poeira, sinapses e coisas marinhas, Colombo, Cabral e Stephen hawkin. Dentre tantas dúvidas uma certeza, melhor voltar... Corri com meu cachorro e até rolei na areia.Criança grande, adulto oculto na praia deserta. ( Ou nem tanto).
 No caminho percebi um carro da policia parado a poucos metros do acesso a calçada. Eu necas, segurança por perto. Continuei andando. Dez passos ou mais e o carro já estava ao meu lado. Enquadro inevitável. Parei, me virei, dei uma baforada no cigarro só por desaforo e disse:
-Posso ajudar?

Truculência:
 Encosta no carro!
Vai, abre as pernas, que ta fazendo ai, qual seu nome?
Olha pra mim!
 Abre bem essas pernas “rapá”!
Onde você mora, o que você faz?
 Meu cachorro rosnava, corria em volta deles, quase mordeu as canelas do oficial que me revistava, mas foi repelido por uma tentativa fracassada de ponta pé de outro hábil defensor da lei.
Perguntas e mais perguntas...
Conferidos os documentos, Ensaiaram uma conversa amigável, sobre os perigos de  andar só aquela hora da noite, coisa de policial. De repente, o radio os chamou para mais uma ocorrência, então partiram, destemidos à procura de meliantes. Eu voltei pra casa, feliz com a quebra de rotina. Onde, do conforto do meu sofá, liguei pro traficante de sempre.
Abençoado seja o dellivery.