quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Padre perdoe-me porque pequei; eram três meninas, escala cromática ascendente, 14, 15, 16, pardinha, pretinha, verdinha, – não resisti, ofereci dez cruzados. Fui eu padre, aquela notícia no jornal das oitos, sou eu. Elas estavam com medo; primeiro intimei uma apenas, sozinha, achei que não haveria vergonha; ela toparia, mas não. Fiquei esperando, fumando, me remoendo, morrendo, uma seca de mais de duas semanas, o quinze de Éça de Queiroz: aquela menina-feminista-escritora. Eça: quase pronome, quase menina, mas sem dúvida uma palavra feminina. Para a minha completa surpresa (o quinze de Raquel de Queiroz estava a caminho do fim), aquela que disse, “não, vou dormir”, voltou com as outras duas, 14, 16. Não conseguiria sozinha, jamais; chamou as amigas, preferiu dividir o dinheiro. No mais, é tudo que nos finalmente importa, num é mano? Yo. Jovem precisa de um grupo. É uníssono o conceito de identificação: roupas caras e caros gostos; igualmente uníssono, afinidade: simplesmente tudo que eu não poderia fazer com você nem em pensamento. Jovem sem escola acha um grupo. Extermínio: adolescentes em escolas católicas morrendo de vergonha do recreio, todos juntos, menos eu; mas isso foi há muito tempo, lembro, 50 anos depois, esqueço, mas relembro que está lá sem efeito, superei, venci, mas não sou eu sou você. De um lado uns, eu de outro, fritando, tentando dormir, chapa quente, de um lado para o outro, cansei, melhor pensar em sexo. Cansei, introdução ao raciocínio lógico, cansei, tese de doutorado de Miguel Reale, nem pensei, 14 15 16, já cansei; na cama, fritando, nos meus sonhos, um engenheiro de alimentos, nutricionista, sujeito empresarial, formado e renomado, primeira aula: ovos fritos. Fritei cada uma delas, padre; primeiro a mais novinha, 14, sequinha, passei à segunda, 15, nela fiquei, gozei de pau mole. 16, a única que não peguei, 16 a que mais gostei. Era o mesmo medo, sozinho não fui páreo. Numeral cardinal: “toma aqui seu dinheiro”; “aonde você vai?”; “volte aqui”; “volte aqui”. Não fiz nenhuma gozar, mas elas sabiam muito bem. Uma pega a outra, mas não estou mais disposto a. Agora, tentando dormir, fritando, só consigo imaginar; bem que queria tirar da cabeça, porém... Os pecados... Meus... Aprenderam juntas a gozar, minha filha, minha sobrinha, minha irmã, todas minhas. A culpa é minha, perdão! Eu pequei. Sei o que elas fazem, mesmo não estando lá, perdão. Por mais que pareçam inofensivas, em grupo, elas se revelam. Perdão, sei que elas queriam mais que eu; o que faltava era coragem, a mesma coragem que me falta. É tudo verdade, a notícia no jornal sou eu. As pessoas vêem estes olhos negros e sabem que por de trás esconde-se o inferno, por isso estou aqui padre. Não quero que me salve, quero que reze por mim, transforme-me em outra pessoa, não posso ser identificado. Identificação (segundo conceito! voooolver): elas se pegando depois que fui embora, simplesmente: precisavam gozar. No caminho para a casa abandonada, falantes, assanhadas. “E, você, faz aquilo, aquilo outro”. Censura para o que diz a menor. Tarja preta. Reze por mim padre, preciso esconder meus olhos negros; as pessoas sabem sem saber; meus pecados estão lá. Contrate uma banda e faça aquela algazarra, devo ser inocentado, preciso ser outra pessoa.
domingo, 24 de agosto de 2008
Bebedeira.

Insatisfeito com o mundo ele bebeu. Bebeu mesmo. Brigou com os amigos, fez novos amigos. Agrediu a mulher, bateu o carro, foi pra cadeia, fez mais amigos ainda, sempre maldizendo o mundo. Seu mundo era uma bosta, um poço enorme de MERDA!
Tentou o suicídio, mas o gongo lhe salvou antes que a luz se apagasse.
-Maldita seja a luz, gritou!
E se fez de surdo quando o despertador tocou! Vagabundo!
Sua sorte foi que o despertador estava quinze minutos adiantados!
domingo, 17 de fevereiro de 2008
sábado, 5 de janeiro de 2008
Conversa no manicômio:
Bom dia ou será que chove?
Ora não importa, nem percebi seu sorriso e meu tédio já lhe contaminou, ou será compaixão?
Não.
Será que poderíamos ficar em paz? Digo de passagem ao meu eu, e ele como de costume, olhou irônico, sorriu com sarcasmo e não respondeu.
De volta à camisa de força.
Bom dia ou será que chove?
Ora não importa, nem percebi seu sorriso e meu tédio já lhe contaminou, ou será compaixão?
Não.
Será que poderíamos ficar em paz? Digo de passagem ao meu eu, e ele como de costume, olhou irônico, sorriu com sarcasmo e não respondeu.
De volta à camisa de força.
Mamãe prepara o jantar praguejando Deus e o mundo. Eu sou deus!- Desocupado, inútil!
Eu não me abalo. Deitado no sofá, convencido de que vivemos no melhor dos mundos possíveis, fumo um cigarrinho. Na TV o noticiário, na cozinha a histeria de mamãe:
-O que foi que eu fiz pra merecer isso! Grita ela.
"Eu é que vou saber" penso com penso com meus botões...
Persiste a dúvida também a vida!
Servido o jantar, começa a novela. Silêncio na sala, olhos atentos. Minutos depois, Tranqüilizada com seu placebo, mamãe esquece de si e adormece. No seu rosto o ar de quem espera o próximo capítulo; sempre decisivo!
Eu, percebendo que a trama esta só começando, me perco assistindo a vida e não encontro o sono, ali diante da TV, sempre a TV .
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